Brasil - apagões & sugestões (para as reformas)

 

(*) Sílvio Vieira de Andrade Filho

 

 

Estamos vendo no Brasil apagões em todos os setores. Vejamos alguns apagões e algumas sugestões para as necessárias e tão somente faladas reformas:

1. O apagão aéreo está no precário controle dos vôos. Desde que houve o choque de dois aviões em 2006, a crise ainda continua nos aeroportos sem nenhuma ação efetiva por parte do governo federal. Descontentamento dos controladores de vôo, passageiros que esperam horas e horas nos aeroportos, cancelamento de vôos, a Infraero mergulhada em corrupção, cargos técnicos ocupados por políticos na Anac (fato que ocorre também em outros setores) e a recente tragédia no aeroporto de Congonhas.

2. O apagão da saúde reside no baixo atendimento para as pessoas carentes que procuram os sucateados hospitais em que pese o INSS receber fabulosa verba mensal dos contribuintes de todo o país. Há desvio de verbas do INSS para vários ministérios saldarem suas dívidas. A CPMF surgiu para ser aplicado na saúde e a sua finalidade hoje é outra. Os políticos deveriam lutar para extingui-la, mas não é o que acontece em Brasília. Outro problema está no preço alto de tudo o que existe neste setor, o que vai contra o pequeno poder aquisitivo da maioria da população brasileira. Uma
ação interessante para a saúde pública seria o governo fazer uma campanha contra a bebida. Na referida campanha, deve incluir a extinção de publicidade de bebidas na mídia do mesmo modo como fez por ocasião da campanha contra o cigarro.


3. O apagão da segurança faz com que grupos como o PCC se organizem melhor que a polícia. Este apagão reside também na grande preocupação que as pessoas têm ao saírem nas ruas, nas violentas torcidas nos estádios de futebol, no tráfico de drogas, na prostituição e na invasão do país por estrangeiros que saqueiam as nossas ricas matas e o nosso rico subsolo.

4. O apagão da economia reside no destino do fantástico dinheiro das loterias que nunca é explicado. Consiste também na pobreza dos brasileiros que trabalham bastante e pouco usufruem. Os políticos costumam dizer que “os pobres não foram favorecidos pela sorte” como se a vida fosse um sorteio e que os cidadãos pobres assim o são por mero acaso. Falam assim como se os pobres não dependessem em nada da administração dos políticos! Estes também dizem que a economia vai bem, mas para quem?

5. O apagão do futebol ocorre quando os campos ficam vazios. Os clubes não se importam muito quando ocorre esta situação porque já ganham demais com o direito de transmissões da televisão. Neste caso, a TV ganha mais telespectadores. Os jogadores que viraram garotos-propaganda também ganham fortunas com o direito de imagem.

6. O apagão energético consiste na dependência do Brasil de fontes de energia estrangeiras (gás boliviano, por exemplo) apesar de ter todas as condições de autonomia neste setor, usando fontes alternativas como a energia solar. Há necessidade de intensificar o uso de energias limpas e renováveis que não provocam aquecimento global.

7. O apagão jurídico reside na impunidade, na venda de sentenças, na lerdeza dos processos que se avolumam até ficarem prescritos principalmente de políticos que até chegaram a confessar nas CPIs os seus delitos e nas cadeias abarrotadas de presos que só são "pés-de-chinelo" e que não se recuperam. Estes nunca são “colarinhos brancos”.

8. O apagão na educação reside no fato de os professores de primeiro e segundo graus não poderem fazer cursos de aperfeiçoamento por falta de tempo e de dinheiro, pois trabalham muito e pouco recebem. Além de mal remunerado, o professor ainda tem que repartir o seu título profissional obtido a duras penas com os técnicos de futebol que, na maioria das vezes, não são nem formados, ganham altíssimos salários e falam palavrões. O apagão da educação reside também na falta de um efetivo sistema de notas capaz de reprovar realmente os alunos que merecem. A abolição de notas que não foi feita por nenhum professor é conseqüência de a escola ter recolhido alunos provenientes de famílias não acostumadas ao estudo e, por isto, incapazes de se esforçarem na obtenção de notas satisfatórias e também por não terem estrutura familiar para isto. Do jeito que está, os alunos vão obtendo notas e ficando sem pré-requisitos para a série seguinte onde tudo vai acontecer novamente até saírem do curso superior. A abolição de notas nas escolas de primeiro e segundo graus foi atitude consciente das autoridades governamentais que vêem neste fato algo positivo para a perpetuação do poder político-econômico. O povo alienado garante a governabilidade do político e boas perspectivas para as futuras eleições já que vivemos num país que não se cansa de ser eleitoreiro. A escola, então, é só para constar, para fazer de conta sem nenhum objetivo maior que é o da construção de uma nação. Deste jeito, não sairemos nunca do terceiro mundo, mas, ao que tudo indica, é isto mesmo o que desejam as nossas autoridades e também as estrangeiras que nos dominam. Não nos esqueçamos que estamos num país onde a escolaridade é pouco valorizada e onde até o presidente da República já fez questão de dizer que o seu primeiro diploma foi o de presidente da república. Este é o maior exemplo de desvalorização das pessoas que dedicam uma vida inteira aos estudos e pesquisas! Excelente exemplo de que estudar não vale a pena! Na verdade, da quinta série em diante, a escola parece ser informativa e não educativa. É preciso dizer também que as ciências evoluíram, mas as escolas não acompanham estes conhecimentos. Ficar no conhecimento antigo é mais fácil para todos, principalmente para as editoras que dizem que fizeram determinado livro didático porque assim é o desejo dos professores. Por outro lado, os professores falam que dão determinados conteúdos aos alunos porque estes estão nos livros didáticos. Há um círculo vicioso muito difícil de ser rompido. No curso superior, sabemos de faculdades que contratam para serviços docentes amigos sem títulos de Mestrado e Doutorado
que são contemplados economicamente, fato que contraria as orientações do Ministério da Educação. Este procedimento causa em sala de aula a perpetuação de assuntos cientificamente ultrapassados além de mandar os títulos dos verdadeiros pesquisadores para o ralo. Este procedimento revela que o caciquismo não ocorre somente na política. Para não perderem consumidores (alunos), estas faculdades oferecem aos alunos grande leque de cursos e uma grande quantidade de vagas que enriquecem os seus proprietários e empobrecem as famílias dos alunos. Cursos que não levam o formando a nenhum emprego. Não há nenhum compromisso das faculdades com o mercado de trabalho. O governo, no entanto, aprova conscientemente a abertura destes cursos que têm mais vagas do que as ofertadas pelo mercado de trabalho. Um fato que chama atenção é a realização de eventos educativos com pessoas que já têm fama e dinheiro (escritores, cantores, atores, etc.) e que moram fora da cidade promotora destes. As autoridades locais não medem esforços para trazerem às suas cidades as referidas pessoas que cobram altíssimos cachês, uma verdadeira fortuna que não sabemos se fica só com elas mesmas. Tais autoridades esquecem-se de que na própria cidade existem pessoas talentosas que estão há muito tempo esperando ansiosamente por uma oportunidade. Tais pessoas não cobram cachê e a verba pública para cobrir eventos deste tipo é ínfima. Geralmente, para os talentos de uma cidade, a verba e a visibilidade sempre são negadas. É bom que se diga que não há contestação do talento dos famosos que bem poderiam nestes eventos ser substituídos pelos talentos locais uma vez que os famosos já são conhecidos do grande público através da mídia e, portanto, dispensáveis para os ditos eventos.

 

9. O apagão da mídia (TV, rádio, internet, jornal impresso) ocorre quando esta procura alienar o povo, afastando-lhe de tudo o que for educativo e da conscientização política. Para consecução destes objetivos, não há nenhuma interferência do governo e até uma certa cumplicidade por parte deste que fomenta a mídia que produz programas alienadores com volumosas verbas publicitárias. Desta maneira, a mídia, em vez de ser um auxiliar do ensino, acaba indo conscientemente contra este.


A alienação da mídia é produzida através de programas de auditório, de certos programas “religiosos”, de jogos, de publicidades e de novelas com conteúdo moral zero e debates longos e barulhentos de futebol que são enfaticamente apresentados para desviarem a atenção dos brasileiros para os gravíssimos problemas que está vivendo a nação. Não somos contra os esportes, nem contra os programas de futebol e nem contra os apresentadores sempre simpáticos. Apenas questionamos a forma como são apresentados. Embora totalmente planejados, estes programas são exemplos de como não se comportar em debates (gritaria, xingos, interrupção da voz do outro, desqualificação da idéia do outro, etc.). Estes programas fazem a supervalorização do jogador de futebol que é colocado num pedestal e ganhando milhões sem nenhum estudo, numa grande ofensa aos que valorizam o estudo e ao trabalhador brasileiro que recebe baixos salários. Devemos acrescentar também que a TV não ajuda em nada a educação do país quando focaliza os técnicos e jogadores de futebol falando palavrões que são sempre os mesmos, não chegam a ultrapassar meia dúzia e dispensam tranqüilamente a leitura labial.

Aliás, se houvesse na mídia programas de debates políticos do mesmo jeito que os de futebol, o brasileiro provavelmente teria maior consciência política a ponto de mudar os rumos do país. Os programas políticos na TV são apresentados em altas horas da noite, o que impede muitas pessoas de adquirirem consciência política.

Muitas vezes, para retribuir as verbas publicitárias do governo, algumas mídias acabam defendendo políticos, abrindo-lhes espaço para falarem ao povo, escondendo a verdade de fatos graves que os envolvem e deixando transparecer ao público um bom clima quando a realidade é exatamente o contrário. Assim, certas mídias acabam virando palanque de políticos que, depois de assumirem seus cargos eletivos, retribuem os seus correligionários da mídia com cargos, verbas publicitárias, etc. É bom lembrar que não são poucos os políticos que obtiveram do governo concessão de rádio e TV. São eles que dominam a comunicação no país, alimentando a alienação do povo para serem eleitos ou reeleitos.

Por outro lado, a bem da verdade e da justiça, a mídia tem informado muito bem o povo brasileiro. Existem jornalistas e comunicadores muito conscientes de seu papel social apoiados por seus patrões de mesmo caráter. Estes problemas que nós apontamos já foram apresentados e tratados por muitos jornalistas. Estes cumpriram e continuam cumprindo o seu importante papel. Apesar de haver aqueles que não têm crítica por não se utilizarem nenhum veículo de comunicação para as necessárias informações, boa parte do povo brasileiro já ouviu, viu e leu tudo e o governo a tudo continua insensível. Há necessidade agora de uma nova fase. A atual conjuntura da política nacional está pedindo uma reação do povo brasileiro contra os políticos que, infelizmente, com raríssimas exceções, não o têm representado, pois não se interessam pelas urgentes mudanças em todos os setores que o país está necessitando uma vez que tudo está bom para eles. Deveria existir na política por parte do povo a mesma reação reivindicatória de torcedores de futebol.

10. O apagão na política está nestes casos: mensalão, dinheiro em peça interna da indumentária masculina, sanguessuga, bingos, correios, abertura de ONGs sem fins sociais e só com o objetivo de captação de recursos financeiros do governo para os seus membros, crises no senado, voto secreto que deve acabar, mandato extremamente longo de senadores e do presidente da república, impunidade (na crise do mensalão, por exemplo, alguns políticos confessaram nas CPIs que eram culpados, mas só alguns foram punidos), falta de decoro parlamentar (parece que "de couro parlamentar" tem sido apenas o sapato do político), fórum privilegiado, empreguismo (o político perde a eleição no seu município e arruma emprego para si ou para os amigos em outro lugar da região onde o seu partido ganhou), continuísmo, ausência de ideologia dos partidos capaz de aprovar a falta de fidelidade partidária, lobismo, caciquismo, grande quantidade de deputados e senadores, grande quantidade de partidos e partidos grandes que se dizem de oposição e que não fazem oposição nenhuma. Na verdade, estes possuem políticos que, com suas “belas ações”, fazem oposição ao povo. São eles que atrapalham o Brasil, saqueando-o a cada segundo.

Não podemos admitir a infidelidade partidária. O político só pode mudar de partido se deixar o cargo para o partido que ele está abandonando que é o legítimo dono dos votos recebidos. Isto permite que este partido faça a substituição do político que saiu. Assim, o político que deixa o partido perde o mandato, deixando os votos para o partido abandonado. Os votos devem ser antes de tudo do partido. Infelizmente, não é o que acontece atualmente. O político é eleito por um partido, sai deste e leva os votos para o partido onde ele está ingressando, traindo completamente o eleitor que não votou no partido novo do referido político.

Devemos acrescentar que as câmaras municipais, estaduais e federais bem como o senado não estão cumprindo o seu papel de representatividade. Os políticos constituem um grupo que não deseja servir a nação, mas que quer servir-se desta.

Devemos lembrar também que as câmaras e o senado viraram esconderijos de certos políticos que, por terem consciência de seus delitos, procuraram ser eleitos ou reeleitos para adquirirem imunidade parlamentar.

Há necessidade de acabar com as regalias dos deputados como imunidade, impunidade, fórum privilegiado, etc. Se o político tem um grau de consciência maior exigido pelo cargo que ocupa, como podemos admitir que ele cometa crimes? A pena para ele deveria ser maior do que a do cidadão comum diante da responsabilidade do cargo que ocupa. O fórum privilegiado é anticonstitucional, pois vai contra a Constituição que diz que todos são iguais perante a lei.

Os políticos dizem que são representantes do povo, mas, na verdade, fazem tudo aquilo que o povo não quer. Portanto, não podem ser considerados representantes do povo, pois não lhes interessa fazer leis contra si mesmos. Interessa ao povo legislação que combata o nepotismo, cargos distribuídos a parentes e amigos como moeda de troca política onde a competência é o que menos conta. Depois das eleições, os políticos desaparecem e os cargos disponíveis (alguns até especialmente criados) são distribuídos para o reduzidíssimo grupo do partido vencedor que inclui parentes. O povo fica totalmente de lado sem nenhuma participação, servindo apenas para o exercício do voto que legitima todo o esquema eleitoreiro.

Reeleição zero. Os políticos deveriam ser eleitos apenas uma vez para haver talvez o aparecimento de novos políticos sem os vícios dos atuais e o fim do caciquismo. O político perde eleição de prefeito e logo é candidato a deputado. Se perde a eleição de deputado, na eleição seguinte é candidato a senador. Os políticos são sempre os mesmos no cenário municipal, estadual e nacional. Os caciques não deixam pessoas boas do ponto de vista qualitativo entrarem no seu partido e, quando deixam, estas só servem para bater palmas para os que já estão no palco previamente organizados. Se dentro do partido, há uma maioria que só serve para bater palmas, o que podemos dizer do povo que não está vinculado a nenhum partido político? Não haveria possibilidade de candidaturas sem partido? Pessoas conhecidas em seus bairros sem formação boa e sem nenhuma qualidade são aceitas nos partidos porque puxam votos para os candidatos a prefeitos, a deputados, etc. e porque são facilmente submetidos ao comando dos caciques. Estas talvez sejam as únicas qualidades que interessam aos caciques que sempre são ajudados por certo tipo de imprensa que os mantêm sempre divulgados. Em contrapartida, estas mesmas pessoas que gravitam em torno do cacique são aceitas como candidatas à vereança ou a outros cargos depois da eleição vitoriosa. Por esta razão, é que temos candidatos vencedores que deixam muito a desejar durante os seus mandatos.

O referido caciquismo explica as razões pelas quais os candidatos são sempre os mesmos, incapazes de cederem a sua candidatura para um outro, revelando com isto um total egoísmo. Como egoístas podem fazer alguma coisa em benefício do povo? Nos discursos e nas entrevistas, dizem que são líderes. Na verdade, não são líderes e sim pessoas egoístas que impedem o surgimento de outras lideranças. Isto é uma ditadura dentro de cada partido. Assim, a ditadura continua no Brasil.

Exclusão de membros de partidos sem nenhum aviso, revelando que os partidos políticos no Brasil viraram pequenas ditaduras. No atual momento político, os excluídos devem até agradecer penhoradamente tal atitude, pois ninguém em sã consciência pode estar desejando alguma participação política nos dias de hoje. Achamos que, a partir da exclusão, é possível que o prejudicado possa ingressar em outro partido sem que tal atitude seja considerada infidelidade partidária.

No Brasil, existe a tendência de o candidato, de uma maneira geral, ser pouco dado ao saber. Assim, ele só vai pensar no jeito mais fácil de ganhar a vida que é entrando na política partidária. Daí aparecerem nas campanhas candidatos com nomes risíveis, fato que revela a sua baixíssima escolaridade. Na realidade, eles torcem para que o eleitor do mesmo nível baixo deles, com eles se identifique, concedendo-lhes o voto. Daí a razão de os governos não investirem em educação capaz de melhorar o espírito crítico do povo e de frustrar o esquema eleitoreiro do Brasil.

Será que a atual geração de políticos ruins é o reflexo da queda da qualidade do ensino brasileiro que encontra em certas mídias um excelente coadjuvante?

Há também o candidato abonado que pode financiar a sua própria campanha. O candidato pode ser também um boneco usado para representar exclusivamente os interesses dos que financiaram a sua campanha. Nestes casos, a sua entrada no partido ocorre facilmente.

Na campanha política sem marqueteiros e apresentada pelo TSE, deveriam aparecer ao público somente os objetivos de cada partido e a sua nota de desempenho nos últimos quatro anos. Esta nota seria proporcional ao número de deputados, senadores, etc. Basta que seja publicada a lista de candidatos sem necessidade de seus enjoados falatórios cheios de repetições e de promessas enganosas. No caso do aparecimento na mídia do candidato à reeleição, este deveria ser acompanhado obrigatoriamente da porcentagem de seu comparecimento às sessões da Câmara, do Senado, etc., dos projetos que apresentou, quantos projetos foram aproveitados de fato para a vida da população, etc.

Muitos sugerem que os cargos de vereador, prefeito, deputado, ministros, secretários de estado, etc. sejam ocupados através de concursos públicos com todas as suas implicações tradicionais que incluem remoção e salários compatíveis com a realidade do país. Haveria, desta forma, uma saudável carreira política e não carreirismo político dos que gravitam em torno do governador, do prefeito, do presidente, etc. para obterem cargos biônicos do primeiro escalão e dos demais escalões. Desta forma, haveria a valorização dos candidatos através de seu conhecimento e de sua competência. Isto valorizaria também as pessoas que estudam em detrimento dos espertalhões sem nenhuma cultura e de seus amigos e parentes que vêem na política excepcional forma de sobrevivência e ascensão social. Por que para ser um servidor público são exigidos tantas coisas como concurso, atestado de antecedentes criminais, atestado de idoneidade moral, freqüência quase que total e para ser político nada é exigido? Na política, a exigência é ao contrário. Exige-se que o político não seja nada daquilo que é exigido ao servidor público. Até o salário do político que nem comparece às sessões é astronômico em relação ao do servidor público que trabalha de verdade e que tem as suas raras faltas descontadas. Isto sem contar com mensalão e outros esquemas dos políticos. Para que haver reforma política, se para os políticos do jeito que está é que está ótimo? Assim, como o Brasil vai conseguir sair do terceiro mundo?

O ato de votar requer crítica e responsabilidade por parte do eleitor. É preciso evitar que os eleitores ignorantes entreguem o país nas mãos de incompetentes e mal intencionados. Assim, acreditamos que os eleitores deveriam também passar por um exame sério já que há muitos eleitores que são ludibriados pelos péssimos candidatos que só querem os seus votos que vão avalizar a representação que, na verdade, não os representa. Por esta razão, o sistema representativo precisa ser abolido ou repensado. Por outro lado, há necessidade também de que os candidatos passem por um sério exame de competência. Portanto, deveria haver nível satisfatório de escolaridade tanto para ser eleitor como para ser governante. Alguns vão dizer que isto é exclusão, mas não é isso que os políticos fazem o tempo todo com o povo? Estas idéias podem parecer estranhas, porém, mais estranho é deixar o Brasil do jeito que está, fato que nos obriga a propor saídas, pois não há possibilidade de tantas coisas erradas continuarem neste país. É bom esclarecer também que a culpa de existir maus políticos tem sido atribuída aos eleitores. Com isto não devemos concordar, pois a proliferação de maus políticos dentro de uma estrutura partidária não democrática não permite que o leitor consiga realizar uma escolha satisfatória. A culpa maior cabe aos políticos que não querem mudar tal estrutura que os mantém no poder.

Há necessidade de mudanças no comportamento do nosso político. De uma maneira geral, ele é muito ambicioso, mostra desinteresse total pelas causas populares, não liga para críticas e necessidades do povo, agrada o povo só nas eleições, é mentiroso, sabe fazer teatro e belos discursos populistas, é montador de esquemas e estratégias e usa a mídia como palanque eletrônico. Além disto, só faz algum benefício para a sociedade, se houver retorno financeiro e político para si ou para o seu partido ou para o seu grupo.

Muitos propõem o Parlamentarismo para o Brasil. Através deste, o primeiro ministro pode cair, pois o parlamento não lhe dá o voto de confiança. O contrário também pode ocorrer.

Vejamos agora algumas características do mandato do atual presidente: quantidade excessiva de ministérios, buscando acomodação para certos políticos, grande quantidade de viagens, altos gastos, perda de tempo e dinheiro do povo. Se não fosse a visibilidade exigida pela vaidade presidencial, os problemas poderiam ser resolvidos em Brasília mesmo, ainda mais se considerarmos as novas tecnologias de comunicação. Além disto, no avião que custou uma fortuna, vai com o presidente uma comitiva enorme. Além disto, o presidente mandou instalar no referido avião um luxuoso bar de altíssimo custo.

É bom lembrar que o próprio presidente afirmou em campanha que o seu primeiro mandato foi um verdadeiro aprendizado para o segundo mandato. Isto quer dizer que o primeiro mandato lhe serviu apenas de estágio! Tudo indica que o presidente, lamentavelmente, continua sendo estagiário neste segundo mandato!

Ainda sobre o presidente, devemos dizer que, em seu primeiro mandato, ficou mais fora do que dentro do Brasil. Será que é para dizer depois que não sabia de nada? Quando ficou no Brasil, ficou mais tempo fora de Brasília. Nos poucos dias que ficou em Brasília, muitos destes caíram em fins de semana que foram usados para o churrasco e o futebol com os amigos. E não é só o presidente que trabalha pouco e fica viajando. Os deputados gastam muito dinheiro com grande quantidade de passagens de avião para ficarem apenas três dias em Brasília com direito a hospedagem, ternos, gasolina, grande quantidade de assessores e outras regalias, algumas até veladas. Como se produzissem muito no período legislativo normal, nestes últimos anos, eles inventaram de trabalhar nas férias para ganharem, sem muitas presenças, mais alguns “trocadinhos”.

Xingos, palavrões e gestos obscenos fazem parte do governo que ora ocupa o Palácio do Planalto. Já faz tempo que isto foi denunciado pela imprensa. Isto revela o nível educacional e moral das pessoas que nos estão governando. Primeiro, o presidente usou uma expressão plena de sexualidade e uma comparação com a descarga do vaso sanitário. Depois, veio a expressão de Marta pouco compatível com o cargo que ora vem ocupando. Posteriormente, o gesto obsceno e indesculpável de Garcia e seu colega de gabinete. Agora, novo palavrão presidencial. O palavrão existe, porém, revela o baixo grau de educação de quem o profere. 

O presidente busca nos seus discursos auto-biográficos e auto-elogiosos uma identificação com povo pobre como se ele ainda fizesse parte desta camada social. Isto é mero populismo do presidente que tem consciência de sua própria hipocrisia. Além disto, o presidente já tentou abafar a imprensa, sugerindo a lei da mordaça, costuma fazer discursos político-partidários em solenidades quando está exercendo o seu papel de presidente. Seus discursos já são confusos e ainda mais quando dirigidos para o público com pouca capacidade interpretativa e crítica.

Devemos lembrar também que, no primeiro mandato do atual governo durante o caso do "mensalão", uma cafetina revelou à CPI como se comportam os políticos em Brasília.

Depois de alguns anos na presidência, percebemos que o presidente fez promessas até agora não cumpridas através de sua falsa linguagem populista com aquela voz rouca e brava como se ainda fosse da oposição.

Será que o presidente só não caiu porque os deputados e senadores mensaleiros que lhe dão sustentação temem um novo regime ditatorial, o que os obrigaria a sair do país, largando toda a mamata e dando um grande alívio à economia da nação brasileira? Ou está havendo algum acordo político entre os da situação e os que se dizem da oposição (com exceção dos pequenos, porém, autênticos partidos de oposição) para caminharem juntos com o atual presidente na eleição de 2010 e, por esta razão, estão a blindá-lo? Ou os partidos de oposição não são capazes de dar uma explicação de que não têm maioria na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, fato que gera incompreensões e descontentamentos na opinião pública? Ou há uma outra explicação a ser dada ao sofrido povo brasileiro?

(*) Sílvio Vieira de Andrade Filho (vieira.sor@terra.com.br) é historiador, lingüista e autor do livro
"Um Estudo Sociolingüístico das Comunidades Negras do Cafundó, do Antigo Caxambu e de seus Arredores" (ISBN 85-89017-01-X, Secretaria da Educação e Cultura de Sorocaba, 2000). Este livro é resultado de sua tese de Doutorado na USP. O referido pesquisador é autor também do livro “Guareí” (ISBN 85-904104-1-2, Prefeitura e Câmara Municipal de Guareí, 2004) e do livro "Itapetininga" (ISBN 85-904104-3-9). O autor tem na internet este site:

http://www.cafundo.site.br.com

 

 

 

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